domingo, 17 de abril de 2016

Pq eu sou Liberal?

O Liberalismo, para quem não sabe, é a posição politica que acredita em intervenção mínima na vida da população e liberdade, liberdade de opinião, crença e atitudes de modo geral, sem ferir o próximo, claro, sem quebrar as leis, mas com leis que respeitem os indivíduos. Vou explicar pq eu apoio o Liberalismo.
Dentro da ideia do Liberalismo um comerciante pode negar atendimento à um gay por motivos religiosos, (NOSSA QUE HORROR!), mas também apoia um gay ou negro a negar atendimento a um neonazista(skinhead), APOIADO! Eu quero o direito de negar atendimento a um skinhead. Quero outras coisas também.
Quero o direito de dizer que eu não acredito em Deus.
Quero fazer uma piada com quem que quiser.
Quero ser respeitada independente da opinião que expresso. 
Quero muitas coisas, quero liberdade para ser quem eu quiser. 
Tenho noção que isso significa respeitar a opinião de outros, as crenças dos outros.
Sou madura suficiente para aceitar que algumas pessoas irão se ofender com minhas opiniões, e que EU irei me ofender com a opinião de outros, mas não sou feita de cristal, fui criada para ser mais resistente do que isso, e acho que sua extra-sensilibilidade deve ser trabalhada, o mundo é um lugar cruel não espere ele mudar para te acomodar, o planeta não gira ao seu redor. 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Maria e Tom

Maria não estava bem, casa nova, escola nova, cidade nova e a consciência de que nada iria ser diferente, ainda seria somente ela e sua mãe, vizinhos apáticos, os mesmos professores desestimulantes, todos os grupos na escola, as mesmas briguinhas, as mesmas fofocas, ela ainda seria a mais nova da sala, a nerd que avançou dois anos, a que ninguém da sala iria querer amizade por ser muito nova, e não faria amizade com as menina da mesma idade, muito imaturas, sem conteúdo.

A rotina semanal continuou a mesma; acordar as 6, tomar banho, se arrumar, café da manhã com a mãe, sair, caminhar 20 minutos até a escola (a única mudança!!! e para melhor!!! odiava o ônibus escolar), aulas, intervalo na biblioteca, mais aulas, ir para casa, 20 minutos de caminhada, trocar de roupa, preparar o almoço(cuidado para não se empolgar nos livros e queimar a comida), almoçar, dever de casa (se tiver), leitura (sempre que possível e de preferência na beira da piscina), talvez um documentário, um filme (quem sabe), lanche da tarde, corrida(1 hora, faça chuva ou faça sol), tomar banho, conversar sobre o dia e banalidades com a mãe enquanto ela ajeita a janta, comer, ler mais um pouco, dormir.

Os finais de semana prometiam ser um pouco mais interessante, a cidade oferecia uma boa diversidade de praias e parques para visitar (pena que os turistas lotam as praias, mas os parques valem a pena).

Maria não compartilhava seu intenso tédio e solidão com a mãe, Eliana era uma mulher com uma história de vida impressionante, digna de filme Hollywoodiano candidato a Oscar, abandono materno, vitima de estupro, uma gravidez aos 16 fruto desse estupro(Maria felizmente parecia com a mãe e não seu pai estuprador), criou a filha com amor, batalhou para estudar e sair das garras dos programas sociais, era gentil, mas era também bastante obvia a força de seu caráter e sua forte personalidade. Maria nunca ouviu a mãe choramingar seu passado, se fazendo de vítima, culpando o mundo pelor horrores que passou, ela simplesmente vivia cada dia da melhor forma possível e criou a filha para ter a mesma força, e ela tinha, tanto que segurava o tédio e a solidão, se a mãe, com tudo que ela passou não reclamava, ela certamente não iria reclamar.

Mas, as vezes, Maria dava vazão aos seus sentimentos, não com gritos ou atitudes irresponsáveis, ela não era do tipo. Não. Maria era o tipo de pessoa que chorava, não aos soluços, mas silenciosamente, você teria que chegar perto para perceber que ela estava chorando. E ela nunca chorava na frente de ninguém. 

Logo após a mudança Maria chorou bastante, geralmente a beira da piscina, sozinha com seus livros. Mas Maria possuía vizinhos (dois até, um de cada lado) e apesar dela ouvir voz de crianças de uma das casas a outra era completamente silenciosa. Achava que estava segura, mas Eduardo Tomás(Tom), a notou.

Os filhos de Tom, Luíz(8) e Fernando(3), gostavam de passar a tarde na piscina, a esposa trabalhava horas normais e ele, como tradutor, fazia seu próprio horário, o que lhe permitia passar a tarde vigiando os meninos na piscina. Tom notou a jovem vizinha de imediato, a primeira vista a única coisa que percebeu foi o corpo(ah...homens), logo em seguida ele focou no rosto(ops, adolescente). Apesar de ser muito extrovertido e sociável, ele achou melhor esperar para se apresentar aos pais da garota primeiro e não acossar a menina(17? 18?), poderia passar uma má impressão.

Foi logo da segunda vez que viu sua nova jovem vizinha que ele achou que talvez ela estivesse chorando, era difícil dizer por entre a cerca viva e a distância. Alguns dias depois ele achou que ela chorava novamente. Curioso e preocupado, mas ainda com um certo receio de se aproximar da garota sozinha, Tom pega um binoculo de brinquedo do filho Luíz, e confirmou que ela estava sim chorando, o choro mais triste que já havia testemunhado. Expressão vazia, olhar distante, lágrimas escorrendo, nenhum movimento, somente as lágrimas e o olhar melancólico e então, do nada, ela enxuga as lágrimas, respira fundo e retorna ao livro que estava lendo, como se nada tivesse acontecido.

Tom esperou o momento certo; quando ela chegar, antes de tirar a saída de praia(precisava o biquíni minúsculo!?), e certamente antes de qualquer sinal de lágrimas. Tom acena e chama pelo maior vão na cerva viva, ela se aproxima, sem sorrir, mas simpática o bastante. Ele se apresenta, seus filhos passam quase por debaixo das pernas dele e se apresentam também, agora ela sorriu.
Maria nunca soube o que motivou seu vizinho a se apresentar, mas aquele encontro mudou tudo. Tom mudou tudo.

Nova rotina: Acordar, tomar banho, se arrumar, tomar café da manhã com a mãe, caminhada de 20 minutos até a escola, aulas, intervalo na biblioteca, mais aulas, voltar para casa de carona com Tom após ele buscar os meninos na escola, preparar o almoço(cuidado para não se perder na série que o Tom indicou e queimar a comida!!!), dever de casa(se tiver), trocar de roupa(biquíni novo!!!um pouco mais cavado na bunda do que o antigo, lindo!!!), pegar um livro, ir para a casa do vizinho, ler na beira da piscina eventualmente trocando comentários com Tom, brincar na água com os meninos(as vezes), lanchar com Tom e os meninos, voltar para casa, esperar a esposa do Tom chegar, correr com Tom(1h e 30m), tomar banho, conversar com a mãe, jantar, ler ou assistir algum filme, ir dormir.

Os dias de Maria estavam mais curtos. Ela descobriu que gostava de crianças. Ela amou debater e polemizar com Tom, quanto mais alterado ele ficava, mais devagar ela rebatia, ele ficava doido. Ela leu romances juvenis populares só para critica-los. Ela assistiu filmes populares só para critica-los. Ela aprendeu a rir de piadas idiotas. Ela não chorava mais. Maria estava apaixonada.

As noites de Tom estavam mais longas. As conversas com a esposa na mesa do jantar eram tediosas. Assistia o jornal para debater com Maria, sua Liberal de Direita preferida. Pesquisava piadas ridículas para fazer Maria rir. Inventava traduções e prazos apertados para não ir para a cama com a mulher. Passou a assistir filmes europeus. Baixava rock clássicos para passar para Maria(música clássica e dos anos 50 o tempo todo ninguém merece). Mudou a arrumação de seu escritório para poder ver a janela do quarto da vizinha sentado à mesa. Lia uma frase, olhava para a janela, traduzia uma frase, olhava para a janela, lia outra frase, janela... Dormia no sofá do escritório por medo de falar dormindo. Tom não sentia mais atração pela esposa. Tom contava as horas para a tarde chegar. Tom estava apaixonado.

Demorou para o primeiro contato, Tom queria, mas não ousava. Maria queria, mas não ousava. Alguém ia ter que ceder. 

As crianças estavam gripadas, nada de piscina, remédio e cama, Maria estava provavelmente fazendo o almoço ainda, ele ouve Depeche Mode vindo da casa ao lado e sorri, manda uma mensagem perguntando o que ela está fazendo pro almoço e se tem pra dois, ela o chama de preguiçoso(pela vigésima terceira vez) e diz que vai levar comida pra ele(de novo), eles almoçaram e aproveitando a ausência dos meninos sentaram para assistir um filme, O Homem de Ferro, Maria está tão relaxada que cochila, a cabeça apoiada no ombro de Tom. A tentação é grande, ele pára de assistir o filme completamente, e só a observa, tão perto, tão linda, são quase 4 meses de intenso desejo reprimido, mas ele se contém e contenta-se com o mínimo; muito de leve, para não acorda-la, ele passa a ponta do nariz na sua têmpora, aspirando fundo aquele cheiro particular que ele já conhecia e adorava. Ele se acomoda melhor e promete que seria só mais essa, volta com a ponta do nariz, na bochecha dessa vez, tão macia, ele só consegue pensar em quão ela era macia. Exibindo uma força que a maioria dos homens não conhece ele se afasta, e vê que Maria está com os olhos abertos o olhando de um jeito que ele já havia imaginado em seus sonhos. Mas era mil vezes mais perfeito. E indo contra sua natureza comedida Maria ergue a cabeça e o beija.  Todo e qualquer pensamento some da cabeça de Tom, não existia nada, só ela, seu gosto, seu cheiro, sua maciez, o calor do seu corpo. Eventualmente voltou a realidade(2 minutos depois? 10? quem sabe?) com a maior ereção que já teve na vida e na memória o gemido mais erótico que já tinha ouvido.

Naturalmente as coisas ficaram meio estranhas entre eles, afinal Tom era casado. Mas, não houve arrependimento em nenhuma das partes, só um aumento do, já intenso, desejo, mas os bons costumes rezam que Tom deveria se dizer arrependido e pedir desculpas e ele decidiu fazer isso. Já era tarde, a luz do quarto dela estava apagada, ele arriscou uma mensagem perguntando se ela estava acordada. Ela respondeu. Ele saiu sorrateiro e foi encontrá-la.

Tom apagou todas as luzes exteriores e pulou o portão de madeira que separava as duas garagens, Maria estava na janela do quarto com a luz apagada. Tom começou o discurso memorizado, Maria o interrompe e fala para ele pular a janela ou alguém ia acabar chamando a polícia. Assim que Tom pula a janela, os dois se encaram. Discurso esquecido, Tom dá o passo que os separam e BUM! Bocas, línguas, dentes, mãos, roupas jogadas pelo quarto, nenhuma dúvida, suspiros, gemidos, suor. Tom não a penetrou, ele a completou.

Dizem que os apostos se atraem, é um clichê que se aplica aqui perfeitamente. Maria, com sua seriedade e gostos seletos, Tom, com seu jeito falador e gosto popular. Ela com seu Q.I. muito acima da média, ele em sua normalidade banal, que causava muitos a julga-lo medíocre. Ele, cheio de bagagem e um mundo de complicações a frente, ela, na liberdade que só os jovens possuem, com um mundo de complicações a frente. Mas naquele momento nada importava. Esposas, filhos, mães, a lei. Eram só os dois, Tom, 38 e Maria, 16.

Foi a primeira noite deles, e foi perfeita.